O ambiente construído é estudado atualmente em várias áreas, como arquitetura, planejamento urbano, artes, sociologia, antropologia e saúde pública. É um termo que se refere às condições e estruturas feitas ou modificadas pelo homem, visando espaços de moradia, trabalho e lazer.
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São exemplos as ruas, prédios e espaços públicos de um bairro ou cidade. Nas áreas de estudo que envolvem o estilo de vida, tem-se encontrado resultados interessantes que demonstram a relação do ambiente construído com a saúde de grupos populacionais.
Alguns índices que avaliam o ambiente construído começaram a ganhar destaque na saúde pública há mais de uma década, à medida que as questões relacionadas com o sedentarismo e a obesidade vieram à tona. Um dos índices mais usados é o de “caminhabilidade”.
A palavra caminhabilidade é definida em dicionário como característica de caminhável, do espaço onde se pode caminhar, andar a pé, nomeadamente dos lugares que oferecem segurança e acessibilidade durante todo o percurso. Acredita-se que ambientes caminháveis promovem potenciais benefícios à saúde, tanto diretamente, ao promover mais atividade física, como indiretamente, aumentando o transporte ativo e reduzindo a poluição atmosférica urbana. Bairros mais acessíveis a pé também são associados a uma maior coesão e conectividade entre os moradores, menos isolamento social e menos criminalidade.
Um grupo de pesquisadores da Universidade de Stanford, na California (Estados Unidos), realizou um estudo, publicado em 2017, que incluiu dados de atividade física de 717.527 pessoas de 111 países e a relação com o ambiente construído. Para avaliar o ambiente construído das cidades e bairros analisados foi utilizado o índice de caminhabilidade.
Os resultados do estudo destacaram a importância que este índice tem no nível de atividade física da população, pois em cidades com maior caminhabilidade, a atividade física foi maior durante a semana nos horários de deslocamento matinal e noturno e na hora do almoço, bem como nos finais de semana durante a tarde. Isso indica que ambientes caminháveis aumentam a atividade física tanto durante o trabalho quanto no lazer. O estudo também demonstrou que um maior índice de caminhabilidade está associado com um maior número de passos diários, em todas as faixas etárias, sexos e níveis socioeconômicos.
Influência do ambiente construído no envelhecimento saudável
Já é bem conhecida a importância de um estilo de vida ativo no envelhecimento saudável. Pessoas idosas vivem mais e com melhor qualidade quando são ativas fisicamente. Assim, o ambiente tem um papel fundamental na saúde geral desta população.
Um estudo de revisão sistemática que avaliou a correlação entre o ambiente construído e o nível de atividade física de idosos, observou fortes evidências de que a caminhabilidade, o acesso geral a destinos, serviços e instalações recreativas e a segurança pessoal foram positivamente associados à atividade física total dos idosos.
Além disso, houve forte associação entre o total de caminhada da população idosa e o acesso a parques/espaços públicos abertos e lojas/destinos comerciais, a presença de vegetação e paisagens esteticamente agradáveis e infraestrutura favorável a caminhadas, como calçadas íntegras e iluminação adequada.
Considerando que a caminhada é o tipo de atividade física mais popular entre idosos, e que também pode melhorar a sociabilização, promover a saúde mental e a autonomia do indivíduo idoso, acredita-se que a preocupação com o ambiente em que a população idosa vive é assunto de fundamental importância nas políticas públicas.
No nosso município...
No grupo de estudos que coordeno na UFSM, o Núcleo de Estudos em Exercício Físico e Saúde, já foram desenvolvidas algumas pesquisas envolvendo o ambiente construído e a população idosa de Santa Maria.
Observou-se, de forma geral, que os idosos do nosso município têm bastante dificuldade para manter-se ativo fisicamente através da caminhada nos bairros em que vivem, devido às calçadas malconservadas e esburacadas, ausência de calçadas, trânsito de veículos em alta velocidade que não respeitam sinais e faixas de segurança, ausência de faixas de segurança e pouca disponibilidade de parques, praças e ambientes acessíveis seguros e bem conservados.
Considerando o aumento significativo da população idosa do nosso município, é evidente que já passamos do ponto em que as políticas públicas municipais deveriam priorizar o estabelecimento de um ambiente construído adequado para a promoção de um estilo de vida ativo, melhorando a saúde e qualidade de vida dos idosos e também de todos os grupos populacionais da nossa cidade, afinal, deve-se adotar um estilo de vida ativo, independente da faixa etária, sexo e nível socioeconômico.